quarta-feira, 22 de julho de 2009

SUA CONVIVÊNCIA ESTÁ SENDO ENCAMINHADA PARA A CAIXA DE MENSAGENS.

Dia desses, minha mulher e eu estávamos no cinema assistindo a Harry Potter (que, por ocupar todas as salas, era o único filme em cartaz), quando um sujeito não só deixou o seu celular tocar três vezes – hello moto, hello moto, hello moto – como também atendeu ao chamado sem ao menos baixar a voz.

– Oi, Matias... Posso, posso falar sim.

Fui o único a fazer um sonoro xiiiiiiiiiiiii, seguido de um olhar de reprovação que até eu me assustei. O sujeito não se abalou e transportou para dentro da sala de projeção uma cena repugnante.

– Ela continua vomitando e com um pouco de secreções, mas está bem melhor.

Ele só foi terminar a conversa lá fora, depois que atirei um balde de refrigerante de três litros e uma montanha de pipocas na sua nuca (eu havia pedido o combo pequeno).

Saímos do cinema e fomos a um bistrô (espécie de lanchonete com cardápio reduzido e preços de restaurante). Queria ter aquela conversa boa depois de um filme, em que o papo começa sobre a película e evolui naturalmente, sem roteiro, para outros assuntos. Eu tentava descobrir sobre o que o filme queria dizer (a cada Harry Potter isso fica mais difícil) quando o celular de minha mulher tocou. Ela nem me perguntou se deveria atender. Era a Cleide, uma amiga do trabalho, que queria contar às 23h49 o que o Alex, o mau-caráter da firma (toda empresa tem no mínimo um), tinha dito depois de uma reunião. Fiquei comendo os pãezinhos com manteiga do couvert, enquanto a Cleide, do outro lado da linha, caprichava no relato, dando todos os detalhes. Depois do terceiro pãozinho, já sem fome e comendo só para passar o tempo, comecei a olhar para os lados. Pensei que mais uma caipirinha poderia aplacar meu tédio e solidão. Olhei pela janela e vi o garçom lá fora, fumando o seu cigarro e fazendo uma ligação. Cleide seguia firme, sem ponto nem vírgula, e alheia ao fato de que em menos de oito horas se encontraria com minha esposa ao vivo no escritório. Quando a ligação terminou, perguntei o que havia acontecido.

– Nada. Coisas do trabalho. – respondeu.

O jantar seguiu em silêncio. Cheguei em casa e encontrei minha filha com um telefone fixo, apoiado pelo ombro, no ouvido e com as mãos digitando num iPhone.

– Filha... Filha... Filha.

Eu precisava conversar com alguém. Demorei a capturar sua atenção. Perguntei em tom de reprimenda:

– O que você está fazendo?

– Quer saber mesmo, pai? Então leia no meu Twitter.

É por essas e outras que volta e meia me pergunto: onde foi que eu errei?